quarta-feira, 25 de maio de 2011

Liderança e gerenciamento: diferenças básicas * Por Selmi Aquino


A busca de líderes efetivos remonta aos primeiros relatos da história da humanidade. Na verdade, o esforço nesse sentido ainda continua nos dias de hoje; agora, em um mundo dominado por organizações governadas por complexas estruturas de gerenciamento. Hoje há um incômodo desafio apresentado por John Kotter, professor da Universidade Harvard, segundo o qual as instituições, em sua maior parte, são “supergerenciadas e sublideradas”.[1]
Como podemos saber quando uma organização está sendo liderada, em contraste a ser apenas gerenciada? Qual é a diferença existente entre as duas coisas? E, entre as duas atitudes, qual deve ser adotada pelo CEO ou administrador verdadeiramente guiado para o futuro?
Diferenças básicas
A diferença fundamental entre liderança e gerenciamento reside na qualidade dos relacionamentos em uma determinada organização. Gerenciamento implica o exercício de controle para conquistar obediência na execução das tarefas. Liderança está fundamentada sobre relacionamentos interdependentes que geram compromisso sincero. As duas coisas têm objetivo e foco semelhantes, mas se dirigem ao destino final através de caminhos diferentes. Para liderar, o CEO ou administrador deve evitar depender das estruturas de controle que estão disponíveis e são usuais na maior parte do cenário gerencial.
O conceito bíblico de mordomia é muito equivalente ao gerenciamento. Mordomia e gerenciamento envolvem responsabilidade conferida, e autoridade para controlar recursos humanos e materiais. Dessa forma, o mordomo é beneficiado com estruturas de gerenciamento apropriadas que lhe permitem o necessário controle sobre aquilo pelo que ele é responsável.
Eliezer, mordomo de Abraão, tinha a responsabilidade de gerenciar os negócios domésticos do seu senhor, e foi incumbido de tomar pesadas decisões, entre as quais foi incluída a busca de uma noiva para Isaque (Gênesis 24). Sua autoridade gerencial era limitada apenas por Abraão e as fronteiras que cercavam a casa do seu patrão.
Semelhantemente, no Novo Testamento também encontramos a figura do mordomo, ouoikonemos (Luc. 16:2 e 3; I Cor. 4:1 e 2; Tito 1:7; I Ped. 4:10), como sendo um gerente (nemo) da casa (oikos). Isto é, alguém que cuida ou gerencia a casa do seu patrão. “A palavra é usada para descrever a função de responsabilidade delegada, como nas parábolas do trabalhador e do servo infiel.” O conceito de gerenciamento assume um relacionamento transacional que permite aos que são gerenciados permutar seu tempo e habilidades por recompensa financeira ou de outro tipo. Gerentes são investidos de autoridade coercitiva, direcionada a conduzir eficientemente as operações da instituição. Esse relacionamento de troca é contratual, em sua natureza, e geralmente é limitado por prescrição de horas e descrição de trabalho formal.
A liderança pode, ou não, acontecer no contexto de um ambiente gerenciado; ou pode ocorrer muito facilmente no contexto de livre associação. Liderança não depende de estruturas coercitivas, e somente é vista dessa forma por causa do modo como o gerenciamento é conhecido.
O modelo relacional de liderança (distinto do modelo coercitivo) envolve pessoas livremente a ssociadas em um esforço comum. Além disso, tal relacionamento não é transacional, ou seja, nesse processo, não existe o elemento “dar para receber”. Ao contrário, existe uma ação comprometida e firme do grupo ou comunidade, para promover o incentivo ao envolvimento. Assim sendo, um administrador que faz a opção de liderar, em lugar de gerenciar, deve colocar-se acima das estruturas organizacionais que forçam a conformidade. Ele deve, ao contrário disso, estabelecer relacionamentos pessoais fundamentados no respeito, confiança e capacitação.
O aumento da importância das organizações foi acompanhado pelo aumento da importância dos líderes, o que se justifica na medida em que eles são diretamente responsáveis pela estratégia e objetivos a serem alcançados pela organização. Afinal, estamos na era do conhecimento e é do conhecimento que as pessoas possuem que as estratégias e objetivos da organização dependem.
[1]  J. Thomas Wren, The Leader’s Companion (Nova York: The Free Press, 1990), pág. 114.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...